Diferentemente do Brasil em relação às obras de Monteiro Lobato, nos EUA editora censurará expressões racistas em livros do escritor Mark Twain. Editora causa polêmica nos EUA ao anunciar que substituirá termos racistas em livros do escritor Mark Twain.
Parecer do CNE contra expressões racistas em livro de Monteiro Lobato leva ‘marxista’ a equivocar-se!
*Almir da Silva Lima
Ao considerar ‘censura’ do Conselho Nacional de Educação (CNE) quando o órgão emitiu um parecer contra expressões racistas no livro “As caçadas de Pedrinho” do escritor Monteiro Lobato (1882-1948), um militante do Sindicato dos Músicos Profissionais Independentes de SP se equivocou. Bradando “Independência da arte para revolução” e “Revolução para a liberação da arte” (acho que aqui ele queria dizer libertação) o sindicalista concluiu assim o texto intitulado “CNE censura (Monteiro) Lobato” publicado no Jornal Luta de Classes da corrente intra PT, Esquerda Marxista (EM-PT). Mais: Ele avocou basear-se também nas fundamentações do Movimento Negro Socialista (MNS) uma das células da EM-PT.
Assim, minha divergência com as opiniões do aludido sindicalista ‘marxista’ é de princípio “Racismo e capitalismo são os dois lados de uma mesma moeda” conforme ensinou o maior herói negro mundial o Mártir Internacional da Consciência Negra, ironicamente o sindicalista e líder socialista sul-africano Stephen-Steve Bantu Biko (1946-1977). Quero dizer, como pode o sindicalista não saber que tal célebre frase é o slogan do MNS no qual ele diz ‘basear-se’?! Não é necessário ser negro para tornar-se anti-racista. O que o sindicalista ‘marxista’ em momento algum afirma ser. Haja vista, o secretário geral da EM, Serge Goulart, que não é negro enquanto anti-racista é autor do livro “Racismo e luta de classes”.
Prefaciado pelo coordenador geral do MNS, José Carlos Miranda, este livro foi umas das fontes para fundação do MNS em 13/05/2006, devendo ser relançado pela editora da EM-MNS a Livraria Marxista, oportunamente. Nas equivocadas opiniões do aludido sindicalista ‘marxista’, ele ouviu o galo cantar, mas não sabe onde. Isto é, de fato a luta anti-racialismo é um dos princípios do MNS. Ou seja, o MNS luta contra a ideologia e ou crença fundamentalista na existência de ‘raças’ entre os seres da espécie humana. Mas, isto não é razão para o sectarismo de ser contra o correto parecer do CNE, somente porque o acusador das expressões racistas do livro “As caçadas de Pedrinho” de Monteiro Lobato, é um militante negro racialista.
Reafirmo o que disse em texto anterior, por ter-se posicionado contrariamente ao correto parecer do CNE a Academia Brasileira de Letras (ABL) acabou sendo incoerente uma vez que foi fundada pelo abolicionista e negro miscigenado Machado de Assis. O mesmo ocorreu com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) porque além de também ter sido fundada por um abolicionista e negro miscigenado o senador imperial Francisco Gê Acaiaba Montezuma o Visconde de Jequitinhonha, a entidade tem entre seus órgãos internos a pomposa Comissão da Igualdade ‘Racial’. Enfim, estas duas entidades burguesas assim como o aludido sindicalista ‘marxista’ não negam serem racistas as expressões contidas no mencionado livro.
Nem mesmo o arrependido marxista o ministro da Educação Fernando Hadad também negou, ao não acatar o correto parecer do CNE. Afinal, o arrependimento dele está estampado no governo que integra e é apelidado de coalizão. Isto é, serve muito mais à burguesia existente no Brasil que é inteiramente branca e se assume como capitalista, mas não racista em relação aos negros e as negras. Assim, o apoio que fundamento e reafirmo ao correto parecer do CNE repito não tem nada a ver com censura, mas sim coaduná-lo com a aplicação da histórica conquista dos movimentos negros após décadas de lutas que é a Lei 10.639/2003 (lutas, História e Cultura Afro-brasileira) no Ensino Fundamental e no Médio.
Esta Lei vem sendo aplicada de forma distorcida na medida em que os cursos de capacitação dos professores dos Ensinos Fundamental e Médio não vêm sendo ministrados por graduados de todas as correntes do pensamento didático-pedagógico. O que prossegue como reivindicação de princípio, por isto, imprescindível para nós do MNS. Além disto, vou direto ao ponto onde é estratégico o objetivo da Lei 10.639/2003 e onde o chamado império da lei é violado pelas expressões racistas contidas no livro “As caçadas de Pedrinho” do falecido escritor Monteiro Lobato. Em 1º lugar, é nítido o objetivo da Lei 10.6339/2003 em preservar a auto-estima de adolescentes especialmente de crianças de todas as cores.
Portanto o livro em meio às expressões racistas degrada a auto-estima e mostra caça a animais em extinção, sendo incompatível com a Lei 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente) nos artigos Quarto, Décimo Sétimo e Décimo Oitavo. Se não vejamos: No artigo 4º É dever (...) da sociedade em geral (...) assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes (...) à dignidade, ao respeito (...) no artigo 17º O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança (...) no artigo 18º É dever de todos velar pela dignidade da criança (...) pondo-a a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
Então, para derrubar de vez os equivocados argumentos de que o correto parecer do CNE seria ‘censura’ basta compará-lo ao caso que ocorre nos Estados Unidos. Lá ao anunciar que substituirá expressões equivalentes à injúria étnico-racial como nigger (crioulo) por slave (escravo), a editora New South cometerá censura no livro “As aventuras Huckleberry” do escritor Mark Twain (1835-1910). Concluindo, o aludido sindicalista ‘marxista’ precisa ler (estudar) as obras do mais genial dos marxistas, o revolucionário russo Leon Trotsky (1879-1940) especialmente o livro “Nacionalismo Negro”. O mesmo ocorre com o estudante venezuelano Euler Calzadilla, mas, isto é assunto para um dos próximos textos.
*jornalista – é militante do MNS onde integra a coordenação nacional e da seção brasileira da Corrente Marxista Internacional (CMI) a Esquerda Marxista (EM-PT) corrente intra PT no qual é membro do diretório municipal em Macaé (RJ).
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